Pediatra por opção, amor … de pequena quando alguém me perguntava: “O que você vai ser quando crescer?”. De pronto, sem hesitação: “Vou ser médica”.

Formada em 1980, trabalhei como neonatologista até 1993 com minha primeira paixão, os bebezinhos. O ano seguinte  foi marcado por duas mudanças profissionais. A primeira , o resolução de iniciar o Curso de Formação em Homeopatia e a segunda o convite para trabalhar na Febem, Fundação do Bem Estar do Menor, em um momento que o Governo do Estado de São Paulo ainda trabalhava com menor carente.

Vou contar um pouco sobre a experiência de trabalhar com as crianças da Febem. Depois eu conto como a homeopata entrou na minha vida.

A direita , na subida do Pacaembu, ainda conseguimos ver o casarão, hoje pertencente à Fundação Faculdade de Medicina.

Pacaembu, casarão lá no alto, construído por Ramos de Azevedo em 1895 e finalizado em 1927, a pedido da irmãs da Santa casa de Misericórdia. Funcionava lá a “Roda dos Enjeitados”.

Responsável pela casa que abrigava crianças de zero a sete anos, vindas de todos e de qualquer lugar, estávamos sempre preocupados com os “contágios”, que seriam então incontroláveis. Portadoras do que chamamos de “Síndrome do Abandono”. Chegamos a ter na casa 600 crianças.

Em uma manhã, passando visita no berçário a enfermeira me avisa:

― Doutora, temos uma catapora…

Tempo de contágio: conta rápida

21 dias de período de incubação (período sem sintomas, aonde a doença se desenvolve), contágio inicia-se dois dias antes das “bolinhas”, 600 crianças, 100 neste berçário, berços lado a lado. Doença de alta contagiosidade: “só de olhar”.

Em poucos dias, 126 crianças infectadas!

Diretor da casa, Dr. Wilson Barbalho, autorizava sem restrições, o uso de Homeopatia associada a todas as outras medidas necessárias.

Na nossa frente, uma doença com poucos recursos para tratamento, todos sintomáticos: banhos , antialérgicos, nada eficaz de fato.

Então, a possibilidade do uso da homeopatia, com o medicamento não do doente mas da “doença varicela”, surgiu como uma luz, em uma epidemia que seria desastrosa em uma população numerosa, de imunidade questionável.

Orientados pelo Prof. Dr. Marcelo Pustiglione, orientador de nosso curso de formação, e com auxílio do Dr. Moises Chencinski, que trabalhava comigo na casa e que havia iniciado o curso no mesmo ano, decidimos usar além dos recursos médicos conhecidos, o tratamento homeopático, que enche nossos olhos sempre que bem conduzido.

Iniciamos então a administração de Rhus toxicodendron, gênio medicamentoso da doença Varicela para as 126 crianças iniciais, e a cada nova criança, mais homeopatia.

Doses diárias, três vezes ao dia.

O trabalho na íntegra está publicado no Brazilian Homeopathic Journal. Você pode acessá-lo através do link: http://www.ihb.org.br/ojs/index.php/artigos/issue/view/36/showToc

Tivemos os seguintes resultados na administração do Rhus toxicodendron:

  • A contagiosidade da patologia não diminuiu comparada ao surto do ano anterior (1995 através de levantamento de prontuários médicos) nem em relação aos textos clássicos.
  • Tempo de evolução da moléstia diminuiu de 10 para 6 dias
  • Intensidade de sintomas e complicações muito reduzidos em relação ao surto anterior

Em 1997, um ano após, no segundo surto de varicela (106 crianças) introduzimos o Rhus toxicodendron precocemente nos afetados e também nos não afetados, portanto estímulo precoce do medicamento homeopático.

Como resultado do que chamamos de “estímulo precoce”:

  • 58% das crianças desenvolveram a doença contra 76% do grupo controle
  • 29% das crianças tiveram complicações, contra 94% do grupo controle
  • Grupo de estímulo precoce teve 65% menos complicações

Questionados quanto uso de homeopatia sem individualização, visto que a ausência de antecedentes pessoais é um fator de dificuldade, usamos o critério de Samuel Hahnemann em relação a doenças epidêmicas, utilizando o gênio epidêmico / gênio medicamentoso.

A homeopatia é um tratamento de alta efetividade. Como demonstrado neste trabalho, barato e de fácil administração. Atua tanto no grupo de doentes como no grupo de contactuantes.

Posturas preconceituosas impedem, em larga escala nessas situações (tivemos um surto de varicela em 2010), o uso da homeopatia.

Hoje contamos com programas de saúde pública onde “Praticas Interativas” são utilizadas, incluindo a homeopatia.

Infelizmente essa experiência é única, afinal, onde encontrar tanta criança e tanta varicela? Mas se aparecer, estamos em prontidão.

Leia mais sobre práticas integrativas de saúde em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pnpic.pdf

Parte desse artigo esta publicado na Revista Doses Mínimas, volume 2; pag. 43,44,45.; Redação de Celso Arnaldo Araujo

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